Deixa de Ser Escrav@ do Elogio e Usa-o para Amar-te

Estava uma noite espectacular. Fui jantar com uma amiga num dos restaurantes de Maputo, junto ao mar. Com uma brisa muito agradável e no meio de uma animada conversa lá chegaram as entradas. Uma delas em particular, que experimentava pela primeira vez, estava uma verdadeira delícia. De comer e chorar por mais. Pedi de imediato para chamar o Chief e pouco depois lá estava ele na nossa mesa. Apresentei-me e agradeci-lhe por aquela entrada maravilhosa. Aproximei-me dele, e olhando-lhe nos olhos dei-lhe os parabéns pela criatividade na apresentação da mesma e no balanço dos sabores dos diferentes ingredientes tao bem usados. Vi e senti que preparou as entradas com muito Amor – disse-lhe eu. Dei-lhe um abraço e desejei-lhe sucessos. O homem meio sem jeito agradeceu humildemente ao mesmo tempo que os seus olhos se arregalavam à medida que ia descrevendo o que senti e mais apreciei ao degustar aquela entrada por ele confeccionada. 

Elogiar os outros é um acto de Amor. Porque Amar é tocar, também com as palavras. 

Cresci num ambiente em que o elogio era uma prática constante. Daí ter esta facilidade no dia-a-dia. Elogio-me a mim própria e também elogio estranhos na rua ou em diversos contextos, amigos, familiares, alunos, formandos e clientes. E como me sinto ao fazê-lo? Sinto-me a transbordar Amor e também a amar-me. 

E aqui cabe lembrar que o verdadeiro elogio deve ter algumas características. Primeiro deve surgir espontaneamente (independente de situações e pessoas) e não por dever ou obrigação. Segundo, deve ser sincero, vindo cá de dentro, do coração e alma. Terceiro, não deve estar associado a quaisquer expectativas (de retorno, de benefícios, etc), pelo contrário, deve ser incondicional. Por último e mais importante, o elogio reflecte o nosso estado interno (emocional, mental e espiritual) e a forma como nos vemos e nos aceitamos. Já que somos espelhos uns dos outros, eu só consigo elogiar nos outros tudo aquilo que vejo em mim mesma e que consigo auto-elogiar.

Considerando as características acima é fácil perceber o quão poderoso é um elogio, quer para quem o faz, quer para quem o recebe. Lembro-me de uma vez estar numa fila de um Banco e olhar para a jovem que estava na caixa e vê-la muito séria e nada sorridente. Ao chegar a minha vez de ser atendida, olhei para a jovem da caixa e de forma espontânea disse-lhe com um grande sorriso: “Bom dia querida eu e todos os restantes clientes merecemos ser atendidos com um sorriso teu”. De imediato a jovem expressa um sorriso radiante. E eu olhando para ela digo: “Adoro o teu sorriso é contagiante e emite uma vibração energética muito boa. Continua assim que tu és a primeira a beneficiar”. Ela respondeu:” Obrigada, nunca ninguém me tinha dito isto.” 

Percebi ao longo dos anos, dando aulas e fazendo formação nas empresas como o elogio pode inspirar no outro a auto-aceitaçao, a auto-estima, a autoconfiança ingredientes cruciais para o resgate do Amor Próprio, e do desenvolvimento e equilíbrio emocional com consequências positivas no desempenho, na criatividade e na transformação e crescimento pessoal e profissional. Isto está já provado pela ciência através dos vários campos da Psicologia. 

No entanto fui apercebendo-me, numa fase inicial quando realizava consultorias nas organizações um pouco por todo o país, trabalhando com equipas, e numa fase mais recente, trabalhando com clientes individuais, no contexto de coaching, aconselhamento psicológico e desenvolvimento pessoal, que a maior parte das pessoas têm uma enorme dificuldade em fazer e receber elogios. 

Observo que o foco tem estado em apontar os erros, criticar o que não está bem e falar apenas nos aspectos negativos. Ė realmente impressionante como isto acontece a todo o momento e nos mais variados contextos. Vejo pais a fazerem isto com os filhos em casa, Professores a assim procederem com seus alunos nas escolas e universidades, Chefes dirigindo-se a seus subordinados e colegas em organizações, maridos e esposas comunicando com seus e suas parceiros/as e políticos dialogando entre si.

E porque será que isto acontece? Por que razão temos tanta dificuldade em auto-elogiar-nos, elogiar os outros e até receber elogios de terceiros? Ou como em várias situações me deparei com alunos, formandos e clientes partilhando da sua tristeza, e alguns até revoltados, por não serem elogiados/reconhecidos pelos seus pais, chefes, colegas, professores, amigos e parceiros.

A resposta a todas estas questões é única: falta de Amor-Próprio. A raíz de tudo!

Quem não se ama e, portanto, não se aceita, tem muita dificuldade em se valorizar e daí não conseguir encontrar em si aspectos para se auto-elogiar. Logo, mais dificilmente conseguirá encontrar aspectos a elogiar nos outros. De igual forma demostrará dificuldade em aceitar elogios de terceiros já que não se considera merecedor dos mesmos precisamente porque não se ama, se respeita, se admira e se estima. Porque não vêem e sentem que tem valor (interno) estas pessoas procuram constantemente validação externa por meio do reconhecimento ou melhor pela “caça ao elogio”. E ainda ficam zangadas e revoltadas quando não são elogiadas. E quando recebem elogios respondem como se não os merecessem se auto-anulando pois as crenças que tem de si mesmas são negativas. Geralmente estas pessoas tem baixa auto-estima, complexos de inferioridade e/ou sofrem da famosa pseudo-sindrome “não sou suficientemente bom” (já que ela não passa de uma falsa crença que tem vindo a ser alimentada por gerações).

A pessoa que se ama, conhece e valoriza os seus dons e talentos (com os quais todos nascemos com) e por isso não necessita de reconhecimento ou validação externa. Não se torna escrava de elogios. E quando eles surgem, também sabe recebê-los e aceitá-los naturalmente pois se acha merecedora. Por isso também são capazes de se auto-elogiar com facilidade, sempre na dose equilibrada. 

Ė certo que grande parte das pessoas com as quais tenho interagido não aprendeu a elogiar. Enquanto crianças não foram estimuladas a isso. Várias questões podes colocar-te a ti mesmo/a para perceber de onde vêm esta dificuldade relacionada ao elogio. Quando criança:

1) Viste os teus pais ou figuras parentais elogiarem-se um ao outro? Ou elogiarem terceiros?

2) Recebias elogios ou críticas constantes dos teus pais/figuras parentais?

3) E os teus professores, tendiam mais a elogiar-te ou a apontar os erros que cometias?

Naturalmente que esta carência de elogio na infância também influi na construção do teu amor próprio, da tua auto-estima, da tua estrutura emocional, da tua auto-confiança. E isto reflecte-se no adulto que hoje és – provavelmente inseguro, com muitos medos e bloqueios emocionais. Inclusive evitar elogiar os outros ou acreditar no elogio que os outros nos fazem pode ser um mecanismo de defesa para evitar o sofrimento, ilusão ou até a rejeição. 

Ao teres crenças positivas a teu respeito facilmente discriminando as tuas qualidades, habilidades e pontos fortes, maior é a capacidade de identificares e enalteceres no outro as suas qualidades e características positivas. 

Leave a Comment

Your email address will not be published. Required fields are marked *